Cirurgia para Epilepsia: Quando e Como Pode Ser a Solução?

A cirurgia para epilepsia é uma opção de tratamento indicada para pacientes que não respondem adequadamente aos medicamentos anticonvulsivantes, conhecida como epilepsia refratária ou resistente a medicamentos. Estima-se que até 30% dos indivíduos com epilepsia enfrentam essa dificuldade, o que pode afetar significativamente sua qualidade de vida. Neste artigo, vamos explorar como a cirurgia para epilepsia funciona, quem pode se beneficiar dela e o que esperar do procedimento.

O Que é Cirurgia para Epilepsia?

A cirurgia para epilepsia tem como objetivo controlar, diminuir ou até eliminar completamente as crises epilépticas. Existem diferentes tipos de cirurgias, e a escolha depende da localização e do tipo de epilepsia.

Os procedimentos mais comuns incluem:

1. Cirurgias ressectivas cerebrais: Remove a parte do cérebro que está causando as crises. O tipo mais comum são as cirurgias do lobo temporal, associado a esclerose mesial temporal.

2. Cirurgia de desconexão (calosotomia, hemisferotomia): Ao invés de remover o tecido cerebral, essa técnica interrompe as conexões nervosas que transmitem as crises de uma parte do cérebro para a outra.

3. Cirurgias Modulatórias (VNS, DBS, RNS): Possuem o objetivo de modular as conexões cerebrais de forma a inibir as crises. Normalmente são cirurgias paliativas, onde não é possível realizar cirurgias ressectivas, ou as mesmas não resolveram.

Quem é Candidato à Cirurgia?

Nem todos os pacientes com epilepsia são candidatos à cirurgia. Os principais critérios para ser considerado elegível incluem:

  • Epilepsia refratária: Pacientes que já tentaram dois ou mais medicamentos anticonvulsivantes com doses adequadas, e com a medicação adequada para aquele tipo de crise, não tendo sucesso no controle.
  • Boa saúde geral: O paciente deve estar apto para suportar o procedimento cirúrgico.
  • Investigação prévia: O paciente precisa passar por uma investigação clínica, como uma Ressonância em um protocolo adequado, eletorencefalograma (EEG), videoEEG, testes neuropsicológicos e estudo invasivos (eletrodo subdural, SEEG) se necessário.
  • Reunião multidisplinar: Os casos são discutido com equipe responsável e decidido se a cirurgia é possível, além da escolha da técnica para o caso.

Tipos de Cirurgia para Epilepsia

Os tipos de cirurgia variam conforme a localização das crises e as necessidades individuais. Além da ressecção e da desconexão, outras opções incluem:

  • Cirurgia Ressectiva: Cirurgia realizada para ressecção da área epileptogênica, como em casos de displasias, esclerose mesial temporal e etc.
  • Calosotomia: Cirurgia utilizada como forma paliativa para controle de crises, principalmente em crises de queda.
  • Hemisferotomia funcional: Cirurgia utilizada para desconectar metade do hemisfério cerebral em crises que acometem todo esse hemisfério.
  • Estimulação do nervo vago (VNS): Um dispositivo é implantado no pescoço e estimula o nervo vago para reduzir a frequência das crises.
  • Estimulação cerebral profunda (DBS): Eletrodos são implantados em áreas específicas do cérebro para reduzir a atividade epiléptica.
  • Termoablação a laser: Utiliza um feixe de laser para destruir o tecido cerebral anormal que provoca as crises. Cirurgia ainda não disponível no Brasil.

Benefícios e Resultados da Cirurgia

Os resultados da cirurgia variam, mas muitos pacientes experimentam uma redução significativa na frequência das crises. Para alguns, as crises podem desaparecer completamente. Entre os benefícios estão:

Melhora na qualidade de vida: Menos crises significam mais independência e possibilidade de voltar a trabalhar ou estudar.

Redução dos medicamentos: Alguns pacientes conseguem diminuir ou até suspender os anticonvulsivantes após a cirurgia.

Recuperação Pós-Cirúrgica

Após a cirurgia, o paciente pode permanecer no hospital por alguns dias para monitoramento. A recuperação completa pode levar várias semanas ou meses, e os pacientes geralmente precisam continuar tomando medicamentos, ao menos no início. O acompanhamento médico regular é fundamental para ajustar o tratamento.

Considerações Finais

A cirurgia para epilepsia é uma solução viável para muitos pacientes que não conseguem controlar suas crises com medicamentos. Embora nem todos sejam candidatos, a avaliação criteriosa por especialistas em epilepsia pode determinar se o procedimento é adequado para cada caso.

Se você ou alguém que conhece está lutando contra crises epilépticas sem sucesso com medicamentos, converse com seu médico sobre a possibilidade de cirurgia. O avanço das técnicas cirúrgicas oferece uma nova esperança para milhares de pessoas ao redor do mundo.

 

Dr. Paulo Augusto Leão

CrmDF: 20984 / RQE: 17199

Neurocirurgião Pediátrico